todas as coisas por Si mesmo, e ao nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. Este amor supremo deve ser preferido a todas as outras coisas o que nos leva a evitar o mal para não ofendê-Lo com pecado mortal. A caridade não é um sentimento vago ou uma emoção passageira, mas uma disposição prática e constante que determina todos os nossos atos e os torna santos e aceitáveis a Deus.
A caridade é superior a todas as virtudes. Ela é a forma de todas as virtudes, aquela que anima e inspira o agir moral do cristão, articulando e ordenando todas as virtudes morais. Enquanto a humildade é o alicerce de todas as virtudes, sendo a verdade e o reconhecimento da nossa pequenez, a caridade é a rainha delas. A humildade é, de modo especial, o alicerce da caridade, dando-lhe consistência. Juntas, humildade e caridade são as virtudes básicas e às quais deveríamos somar a virtude da pureza como trinômio fundamental de uma vida santa.
O objeto principal da caridade é Deus, amado pela Sua própria bondade. Este amor a Deus enquanto sumo bem e último fim é indivisível. A caridade é infundida por Deus na alma dos fiéis e atualizada em nossos corações pela ação do Espírito Santo. A plenitude da vida cristã e a santidade são alcançadas pela perfeição da caridade. A estatura espiritual de uma vida humana é medida pelo amor. A medida da santidade de uma pessoa é a medida de sua caridade.
A caridade é a lei suprema da vida cristã. Os Dez Mandamentos enunciam as exigências do amor a Deus e ao próximo, mas a caridade é a plenitude da lei e a síntese de toda a Lei. O agir do homem que busca a bem-aventurança realiza o duplo mandamento da caridade, desdobrado nos Dez Mandamentos de Deus. Sem caridade, mesmo que repartamos todos os nossos bens ou entreguemos o corpo ao fogo, nada aproveita. A fé viva age pela caridade, e é a caridade que dá vida e valor às obras praticadas sob a luz da fé.
O pensamento dominante do coração caridoso é estudar sem trégua como servir a Deus e buscar meios pelos quais Ele possa ser agradado. O prazer de agradar a Jesus é uma das maiores alegrias para qualquer alma. A pessoa caridosa se ocupa totalmente de sua adesão a Deus, de viver unida a Ele e de encontrar nEle sua felicidade. O mais alto e mais perfeito amor a Deus consiste em conformar-se em tudo com a Sua vontade. O verdadeiro justo, aceso de amor por Deus, se consome pela Sua glória.
A caridade tem duas faces: uma voltada para Deus e a outra voltada para si mesma na abnegação. O amor verdadeiro exige o sacrifício e a renúncia ao egoísmo. O amor sempre deve ser puro, sólido e invariável, com seu fundamento em Deus, e não sensual, natural ou interessado.
A caridade deve ser uma paixão dominante que anima todos os atos do cristão. O amor faz encontrar fácil, agradável e delicioso tudo o que se empreende. O amor a Deus faz com que o indivíduo deseje e procure os trabalhos, considerando-os suas delícias. A alegria no sofrimento por amor de Jesus é uma expressão de amor puro.
A caridade para com o próximo deve ser real e efetiva, manifestando-se em seis graus principais: amar, aconselhar, socorrer, suportar os defeitos e imperfeições alheias com paciência, perdoar com misericórdia as injúrias recebidas, e edificar com palavras e exemplos. A pessoa caridosa faz seu o bem alheio, alegrando-se com ele como se fosse próprio, e entristece-se e compadece-se das aflições espirituais e corporais do próximo. Ela é obsequiosa e amiga de servir, ajudar e dar contentamento a todos, vendo no próximo não simplesmente um homem, mas Jesus Cristo ou um membro de Cristo.
São Paulo traçou um quadro incomparável das qualidades da caridade. A caridade é paciente e prestativa. A paciência em muitas ocasiões é o suporte do amor. A benignidade é uma disposição do coração que nos inclina a fazer o bem aos outros. A caridade não se ostenta, não se incha de orgulho. O orgulho e o egoísmo são contrários à caridade. A caridade não procura o seu próprio interesse, é desinteressada e liberal. Não é invejosa, nem ambiciosa. O egoísmo e o amor próprio desordenado são os maiores inimigos da caridade.
A caridade não se irrita, não guarda rancor, e tudo desculpa. O ódio voluntário é contrário à caridade, sendo pecado grave quando se deseja deliberadamente um grave dano ao próximo. A caridade tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Ela tem como frutos a alegria, a paz e a misericórdia. A caridade ensina a suportar e levar as fraquezas e imperfeições dos próximos. Deve-se ter o coração de uma mãe para com o próximo, demonstrando atenção aos perigos, presteza em assistir nas necessidades, e bondade em suportar os defeitos.
A pessoa caridosa tem grande estima e respeito por todos, procurando antecipar-se aos outros honrando-os e cedendo o seu direito. Fala sempre bem deles e evita contendas, porfias e rixas. Procura não julgar o próximo desfavoravelmente. O humilde, por caridade, tem os olhos abertos somente para ver as suas faltas, e fechados para ver as faltas do próximo. A mortificação de si mesmo é necessária, pois aquilo que impede a união e a caridade é o buscar para si os gostos e a honra. A mortificação tira tudo isso e aplana o caminho para a caridade.
A caridade é o vínculo da perfeição que assegura a unidade da Igreja peregrinante. O Espírito de Cristo utiliza as comunidades eclesiais como meios de salvação cuja força provém da plenitude de graça e de verdade que Ele confiou à Igreja Católica, incluindo a caridade. O apostolado é caridade em ato. A caridade é a alma de todo apostolado, haurida sobretudo na Eucaristia. Quanto mais as virtudes teologais existirem num coração, mais os eflúvios do sobrenatural hão de ajudar a fazer nascer essas mesmas virtudes nas almas dos outros. O amor exige que se anuncie a verdade e o bem a todos.
A caridade exige a prática da justiça, mas difere dela. A justiça respeita a distinção e independência do outro, enquanto a caridade une todos os homens e faz com que um ame o outro como a si mesmo. A política, quando busca o bem comum, é uma sublime vocação e uma das formas mais preciosas de caridade. É caridade organizar a sociedade para que o próximo não se encontre na miséria. A caridade exige reconhecer que o amor se manifesta nas macrorrelações sociais, econômicas e políticas.
O lar é a escola das virtudes humanas e da caridade cristã. A oração cotidiana e a leitura da Palavra de Deus fortificam a caridade nas relações familiares. A caridade na família consiste particularmente no amor que os pais dedicam aos filhos. A castidade conjugal deve ser cultivada com sinceridade para que o ato conjugal conserve o sentido integral da doação mútua e da procriação humana no contexto do verdadeiro amor. A caridade é a forma de todas as virtudes, e influenciada por ela, a castidade se torna uma escola de doação da pessoa.
A ajuda espiritual, como a correção fraterna, nasce da caridade. A caridade constitui a fonte principal de mérito diante de Deus. Uma conversão que procede de uma ardente caridade pode levar à total purificação do pecador, eliminando qualquer pena temporal. O pecado venial constitui uma desordem moral que é reparável pela caridade, que ele deixa subsistir em nós.
A caridade dá grande ânimo e fortaleza, fazendo tudo fácil, suave e saboroso. O amor não encontra nada de penoso, amargo ou árduo. A caridade manifesta-se em três fases ou estádios principais, que correspondem aos graus de progresso na vida espiritual. A primeira é a caridade dos principiantes, que corresponde à via purgativa. É a caridade daqueles que cuidam sobretudo de evitar o pecado. Neste estágio, o indivíduo se exercita na dor e arrependimento dos pecados e no desarraigar os vícios e más inclinações. São os incipientes no serviço a Deus, que dão fruto de trinta.
A segunda é a caridade daqueles que progridem, que corresponde à via iluminativa. É a caridade dos que se esmeram por crescer em virtudes e em caridade. Sua atenção concentra-se em Cristo, modelo de todas as virtudes, e porfiam em imitá-Lo o mais perfeitamente possível. São os proficientes, os que vão aproveitando, que dão fruto de sessenta.
A terceira é a caridade dos perfeitos, que corresponde à via unitiva. É a caridade dos que se ocupam totalmente de sua adesão a Deus, buscando viver unidos a Ele e encontrar nEle sua felicidade. O objetivo é alcançar o amor puro, perfeito e unitivo, que leva a alma a compartilhar a bem-aventurança e as perfeições de Cristo e de Deus. É o grau máximo, no qual os perfeitos dão fruto de cem.
A fé começa a união com Cristo, a esperança a continua, e a caridade a aperfeiçoa. A Fé e a Esperança cessarão com a posse de Deus, mas a caridade perdura eternamente. A vida eterna consistirá num ato ininterrupto de caridade. Por isso a caridade é chamada a maior das virtudes, a rainha que governa todas as outras e a medida pela qual seremos julgados no último dia.
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