Fé: A Porta para a União com Deus


Os Méritos e Frutos da Fé Viva

A fé é a chave que abre o coração humano para a ação transformadora de Deus. A fé é uma revelação sobrenatural, acolhida com humildade por aquele que se dispõe a crer. Como ensina o Concílio Vaticano I, a fé é um ato da inteligência que, impulsionada pela vontade movida por Deus, consente na verdade revelada.

Podemos rezumir que a Fé é:

  1. Ela eleva o intelecto e o enriquece com verdades sobrenaturais recebidas por revelação divina.
  2. Seu objeto é Deus, que é a própria verdade.
  3. Serve como fundamento para a união com Deus, que é continuada pela esperança e aperfeiçoada pela caridade.
  4. O intelecto que recebe e guarda a verdade participa da divindade, pois "tua lei é a verdade".
  5. São Tomás de Aquino explica que a fé é a "substância das coisas que se esperam", significando que, pela fé, os bens esperados já estão, de certo modo, presentes em nós.
  6. É descrita como o "princípio da substância espiritual e divina", pela qual nos tornamos participantes da natureza divina.

A Fé como Ato Intelectual e Sobrenatural

A fé eleva o intelecto humano, tornando-o capaz de acolher verdades que superam a razão. Não se trata de crer em absurdos ou de suspender o pensamento crítico, mas de acolher verdades reveladas por um Deus que não pode enganar nem ser enganado.

O objeto da fé é o próprio Deus, em tudo o que Ele nos revelou por meio dos profetas, dos apóstolos e do seu Filho Jesus Cristo. Por isso, a fé cristã tem como conteúdo verdades que iluminam a inteligência humana, dando-lhe um horizonte novo e eterno.

Diz o salmista: “Tua lei é a verdade” (Sl 119,142), e quem acolhe essa verdade passa a viver na luz. A fé, é luz sobrenatural que nos conduz ao conhecimento de Deus e de seu plano de salvação.

Fé, Esperança e Caridade: A Trindade das Virtudes Teológicas

A união com Deus é um processo dinâmico. Começa com a fé, é sustentada pela esperança e é consumada pela caridade. A fé, ao nos unir a Deus pela adesão à sua Palavra, abre as portas para que a esperança nos firme nas promessas divinas e para que a caridade nos transforme completamente no amor.

Sem a fé, não há alicerce para as demais virtudes. A esperança sem fé seria mera expectativa humana, e a caridade sem fé seria filantropia, e não amor sobrenatural.

Assim, a fé é a porta de entrada para a vida espiritual, a base sobre a qual se constrói toda a santidade. É por isso que o autor da Carta aos Hebreus afirma: “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11,6).

A Participação na Divindade pela Fé

Ao aderir à verdade revelada, o homem entra na comunhão com o Deus vivo. São João da Cruz afirmava que a fé é o único meio proporcionado ao homem para alcançar o conhecimento de Deus nesta vida, pois ela nos eleva além dos sentidos e da razão. Essa participação na divindade pela fé transforma o homem interiormente, iluminando-o com a graça e conduzindo-o à vida eterna.

Os Méritos e Frutos da Fé Viva

A fé, para ser salvífica, deve ser viva, isto é, acompanhada pelas obras da caridade. Como ensina São Tiago: “A fé sem obras é morta” (Tg 2,26). Quando a fé é autêntica, ela frutifica em atos concretos de amor a Deus e ao próximo, tornando-se um instrumento eficaz de santificação.

Entre os frutos da fé podemos destacar
  1. A certeza interior que nasce da confiança em Deus;
  2. A luz que orienta as decisões morais;
  3. A fortaleza diante das tribulações;
  4. A capacidade de testemunhar Cristo no mundo;
  5. O discernimento espiritual, pois a fé bem formada nos preserva dos enganos;
  6. A paz interior, mesmo em meio às tempestades da vida.

A Fé Como Combate e Perseverança

A fé também é um combate espiritual. São Paulo nos exorta: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7). Guardar a fé significa mantê-la íntegra diante das provações, das heresias e das tentações do mundo.

Perseverar na fé é permanecer firme na doutrina dos apóstolos, nos sacramentos, na oração e na vida de caridade. É resistir ao pecado, manter o coração vigilante e renovar continuamente o nosso “sim” a Deus.

O Papel da Fé na Liturgia e nos Sacramentos

A fé é também condição essencial para a recepção frutuosa dos sacramentos. Cada sacramento exige, de quem o recebe, uma disposição interior de fé, sem a qual a graça não encontra espaço para agir plenamente.

Na Santa Missa, por exemplo, proclamamos: “Eis o mistério da fé”. A Eucaristia exige fé para reconhecer a presença real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho. No Batismo, a fé é a porta de entrada da graça santificante. Na Confissão, é preciso crer na misericórdia de Deus para se abrir ao perdão.

Toda a vida sacramental da Igreja está intimamente ligada à fé. Onde há fé, há fecundidade espiritual. Onde falta a fé, os ritos se tornam vazios.

Conclusão: Viver da Fé é Viver em Deus

A fé é, portanto, o alicerce da vida cristã, a luz que orienta o coração humano rumo ao seu fim último: a união eterna com Deus. Ao crer, o homem se abre ao infinito, se liberta da escravidão do pecado e começa a viver já neste mundo a realidade do céu.

Como ensinou São Paulo: “O justo viverá pela fé” .

Que nossa fé seja firme, esclarecida, operosa e perseverante. 
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Fonte Consultada
Gaume. Catechismo di Perseveranza: Esposizione istorica, dodmatica, morale, liturgica, apologetica, filosofica e sociale della religione dall'origine del mondo fino ai nostri giorni. Sesta volta. Vol. 1. [Place of Publication: Publisher], 1840.

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